Vai por que quer, falta de carinho não é!
Sonhamos com o dia em que conseguiremos
combater essa doença. Trabalhamos a espera de um mundo onde todos tenham
ardente em seu coração a preocupação com o cuidado pelo próximo. Vivemos aqui
assim, todos os dias, todos os minutos de nossos dias. Nessa ânsia por
trazermos mais Vida a Vida dessas pessoas que por escolhas ou não, ainda que
involuntárias, sofrem a dor diária de uma luta sem futuro certo. Uma dor que
irradia em seus familiares, amigos e em nós simples colaboradores da saúde que
carinhosamente criamos um laço.
Na administração de uma unidade
de saúde de pesquisa, prevenção e tratamento de Câncer confesso que meu contato com eles quase nunca é frequente, ao ponto de
criarmos “rotinas”. Conheço a grande maioria, mas poucos tenho a chance de
acompanhar todo o processo do tratamento, recebendo e dando carinho ou atenção
como acontece com os cargos mais assistenciais.
Hoje, perdi não só um paciente,
mas um amigo, um anjo em que todas as vezes que buscava dar conforto a ele em
seu quarto de internação ou quando entrava em minha sala pra me dar bom dia, me
inundada com doses infinitas de lições de vida e amor.
Seu Nelson era como um pai para
todos aqui. Vivemos sua luta por pouco mais de um ano. Um homem guerreiro, como
tantos outros que teve sua vida limitada pelo tratamento desta doença tão
violenta.
Passava horas ouvindo suas histórias,
fazendo planos do nosso novo hospital em que ele seria meu mais comprometido “mestre
de obras”. Criticávamos a política, confidenciava nossos dissabores. Ele me
dava força, e eu para ele. Fiquei devendo a feijoada da minha mãe, assim como levá-lo
para conhecer o terreno onde construiremos o maior sonho de todos que lutam por
essa causa em Rondônia. Entretanto, vivo a certeza de que o encontrarei para
contar o que vivemos nesse tempo todo distante.
Me lembro da penúltima vez que
esteve aqui. Saímos de mãos dadas, ele na cadeira de rodas, sua mulher Patrícia
e eu ao lado o acompanhando até o carro. O hospital inteiro pelo corredor dando
tchau para aquele bravo companheiro. Ele desejava força a seus colegas de
quarto, parando pelo corredor todos funcionários com suas recomendações de
“volto em breve”. Até chegar a despedida, me olhar com toda ternura e dizer:
“eu te amo minha filha. Muito obrigada por tudo até agora”.
Seu Nelson depois de quase uma
semana voltou ao hospital por intercorrências e dias depois foi para a UTI. Sem
querer disputar uma vaga de visita entrei escondida até seu leito. Lá estava
ele, ainda mais impossibilitado de manifestações. Dessa vez, só eu falava. E
tenho certeza que me ouvia. Desta vez, eu que dizia “vai por que quer... por falta
de carinho não é”. Essa era a frase que ele me dizia todas as vezes que eu o visitava
e ia embora de seu quarto.
Raquel, impossível não me emocionar lendo seu texto. Confesso que o li mais de uma vez, na esperança quase que desesperada de ter mais um pouquinho de meu pai mesmo que em palavras...
ResponderExcluirNunca teremos como agradecer a vocês, grande família do hospital de Barretos, unidade Porto Velho, o que fizeram pelo meu pai. Sua luta foi dolora e curta mas se sentia tão seguro e amado enquanto tinha os cuidados de vocês, que tenho certeza que até o último minuto de sua consciência, sabia que estava no melhor lugar que poderia estar! E como te disse no velório, vocês fizeram muito não só por ele, mas por nós também. Nossa família e bem pequena e em Rondônia éramos só papai e nós três, as mulheres da vida dele, como ele mesmo falava! Vocês foram fundamentais para que nos mantivessemos de pé! Sei que os dias passados no hospital por minha mãe e irmã, foram menos dolorosos pela certeza de que vocês estariam lá, de que largariam um pouco as inúmeras obrigações, para conversar um pouco, para fazê-lo sorrir...
É uma honra e orgulho enorme para mim como filha ver o amor que meu pai despertou em vocês. Ele era mesmo uma criatura muito especial e o burraco que deixou com sua ausência demorará muito para ficar ao menos raso!
Mais uma vez, nosso muito obrigada, papai se foi e nos deu vocês de presente!
Querida Raquel, acho que posso lhe chamar assim, apesar de não nos conhecermos. Obrigada pelas tão lindas palavras endereçadas a meu irmão, ao acolhimento dado a linda família dele e principalmente pela alma e dedicação de forma tão "humana" "aqueles que lhe solicitam seus saberes na área de saúde. Fico feliz em saber que minha família pode contar com seu calor. Um forte abraço.
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