Só amor!


Algumas coisas acontecem na vida da gente sem que possamos compreender em seus instantes. Nossa maior gratidão dentro deste hospital são os “presentes” que ganhamos. Eles chegam nas mais singelas e variadas formas, como caixa de bombom, caixinhas de sabonetes, anel de algodão doce, bolos, pães, abraços, lágrimas derramadas em forma de agradecimento, um olhar contido... infinitas formas o
nde a criatividade vem do amor, só do amor que dedicamos.

O departamento mais presenteado tem sido a recepção. Estimulo uma competição sadia entre elas, perguntando sempre ao final do dia sobre as experiências que tiveram. E elas me contam cheia de carinho as demonstrações de afeto de cada paciente. Quando elas não ganham sequer um bilhetinho de coroação da “recepcionista mais simpática” eu brinco dizendo: "você não está dando seu melhor. Vamos rever seu atendimento!"

Hoje a ganhadora do presente mais inusitada desde a abertura do Hospital de Câncer de Barretos - Unidade Porto Velho, foi eu. Há uns dois meses tivemos um problema com um paciente transferido de Barretos, seu Ozias Crivelli. Por dificuldades ainda de agenda e montagem de prontuários, como tantos outros casos, eu fiz questão de conversar com ele e sua esposa, a “brava” e querida Lucila. E depois de horas de irritação do casal eu já me sentia parte da vida deles.

Aprendo em cada minuto do meu dia a ser gente de verdade com os testemunhos de nossos pacientes, e com ele tive mais e mais orgulho de me dedicar a este trabalho. Seu Ozias nunca em sua história de tratamento solicitou ajuda do TFD, ele dizia que sentia como se tirasse a vaga de alguém que realmente necessitava, entre outras situações de tirar o chapéu por tamanha humanidade. Animados com o casamento de mais um filho e inseguros com a saúde de Seu Ozias, me contavam sobre os preparativos dessa grande festa que dariam para a família e amigos. Na intimidade daqueles minutos eles já me falavam que trariam um pedaço de bolo, enquanto eu rebatia pedindo um pedaço do buquê da noiva (risos). E dona Lucila ainda dizia: "aaaah se meu filho não tivesse com data marcada, eu faria muito gosto de você conhecê-lo!" E eu brincava: "que isso dona Lucila, sem essa de estragar noivado de ninguém. Me traga um pedacinho do buquê e meu príncipe virá!"

Eis que o dia chegou. Hoje, encontrei os mesmos no ambulatório. Faceiros com o casamento, felizes da vida me trouxeram dentro de uma caixinha térmica o tal pedaço do buquê da noiva. Eu fiquei pasma, não tive reação se não de abraça-los e agradecer. Com tanto, mas tanto carinho eles me disseram: "lembramos de você e aqui está. Eu poderia ter comprado em uma floricultura hoje, mas não teria o mesmo valor. Congelei desde a festa e fiz questão de te trazer junto com um convite para que guardasse essa lembrança. Que Deus te abençoe e você seja muito feliz!”.

Qual o motivo deste casal, que teve apenas horas de conversa comigo, se lembrar de mim durante a festa de casamento de seu filho?!!? O nó ainda está na minha garganta e só Deus sabe a minha gratidão.

Ao se despedir ela ainda disse: "Quero bordar um outro presente pra você. Já tem a letra inicial do felizardo?" E eu sorri e disse: "te espero amanhã aqui para conversarmos sobre o assunto! (risos)"

Seu Ozias, Dona Lucila, obrigada por ter me feito hoje alguém muito melhor do que pude ser ontem. Que Deus os abençoe sempre!
— em Hospital de Câncer de Barretos - Unidade Porto Velho.

Comentários

  1. Fiquei muito feliz ao ler seu texto, por lembrar dos meus pais assim. Infelizmente a pouco mais de dois anos meu pai foi morar com Deus.
    E ai, já encontrou seu príncipe???
    Felicidades.

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